quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

POESIAS

Travessia

Melissa Berwanger

A balsa de trinta palmos
trazia homens tisnados
mulheres taciturnas
com olhos semicerrados.

A balsa de trinta palmos
trazia Jacira muda,
cozedura e cozimento
quanto sono fatigado.

Panelas, cumbucas, tamancos,
parafernália caseira
ao bater dos solavancos.

Estátua em pé, o marido,
na mão segura, a lança,
mas às costas de Jacira
que com febre delirava
agarrada uma criança

O rio barrento corria
feito vontade de ir
ah, Jesus, Cristo, Senhora,
que ânsia, que ânsia de me atirar
quem sabe Tupã me leve
pra dormir e não sonhar...

Na balsa de trinta palmos
a travessia se ia,
cruzavam sem medo a enchente,
o barrento escorregar,
toda água, a divisa,
na nudez sobre o silêncio
da vida a se carregar.

O bebê já reclamava
a teta de Jacira murcha,
no leito jorrado do peito
o lento leito do barro.

Sob a balsa de trinta palmos
o gosmento rio corria
feito vontade de ir...
Ah Jesus, Cristo, Senhora
que ânsia, que ânsia de me atirar
quem sabe Tupã m leve
pra dormir e não sonhar...

Na balsa de trinta palmos
vinham cansados, doridos,
ensombrecidos da vida
ou elétricos, assombrados,
vezes tanta esperança,
outras medo arrepio,
sempre olhos inundados
da margem esquerda do rio...
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